Matpunk parte 01


MATAPUNK
"Existe um mistério no fundo dos quintais, principalmente nos quintais de casas muito antigas."
______Trecho da música: Os Mistérios dos Quintais da banda Quintal de Clorofila.


 

   Matapunk é um gênero de ficção totalmente brasileiro onde vemos a vegetação da Mata Atlântica consumindo vestígios da civilização brasileira com misticismo e folclore.

   Passei a desenvolver esse gênero após um trabalho que desenvolvi com a faculdade FAPACI em Itanhandu no ano de 2018 onde publiquei o livro 'Cronologia em Arte, uma breve história de Itanhandu e região' em que falo sobre como nós brasileiros devemos valorizar mais a nossa cultura.


  Se você vê uma casa alemã, você sabe que é alemã, se você vê uma rua do Brooklin, você sabe que se trata dos Estados Unidos, o mesmo vale para Los Angeles, Nova York, Itália, Japão entre tantos outros lugares que são icônicos. Isso é devido não só a autenticidade dos lugares, mas também à propaganda destes nos meios de cultura e mídia como filmes, mangás, séries, animes livros, etc. 

  O Brasil também possui inúmeras formas culturais icônicas e onde eu vivo, na região do Sul de Minas, eu vejo uma força de autenticidade cultural enorme que quase nunca vejo sendo explorada, uma força que remonta às primeiras iniciativas de trazer luz às regiões da mata atlântica e serrado. Os resquícios das usinas de força, das linhas férreas e dos maquinários abandonados em meio à vegetação selvagem e mística.



   Quando falamos do Cyberpunk ou do Steampunk e Solarpunk, nós conseguimos imaginar perfeitamente do que estamos falando, são palavras que resumem a estética da história que estamos lendo e acompanhando, da mesma forma, eu quero enaltecer essa estética da minha região dentro da ficção e é por isso que comecei a escrever Carnoalia. 

   A riqueza e a magia da mata atlântica e do cerrado me faz deslumbrar inúmeras possibilidades criativas e a ficção é uma das formas mais formidáveis de apresentar toda essa beleza. 

  Recontar as lendas brasileiras por um viés mais enaltecedor do que jocoso, como Monteiro Lobato em O Sítio do Pica Pau Amarelo e mais subversivo como o grande Ziraldo que enalteceu nosso folclore com A Turma do Pererê que marcou minha infância. O que quero dizer com isso é que no primeiro caso houve uma reafirmação de estereótipos racistas e colonizadores enquanto no segundo caso havia critica social anticapitalista e criativa na hora de recontar o folclore. O mesmo com Castelo Rá-Tim-Bum que abusou da liberdade 
criativa e contou novas histórias. 

 Em todos esses casos eu encaixaria como Matapunk. E o fato de nunca terem criado um nome para esse tipo de ficção é algo que no meu estudo eu apontei como descuido porque em todos os outros lugares que são conhecidos por se promoverem, há um nome, um gênero que enaltece e ajuda outras pessoas a encontrarem as obras. Eu entendo que rotular pode parecer algo como "encaixotar" a obra, e muitas pessoas podem torcer o nariz para qualquer tentativa de rotular uma obra, mas por que a gente não pensa isso quando falamos do gênero Cyberpunk por exemplo? 


  O Cyberpunk também possui obras excelentes que nunca se limitariam apenas ao gênero Cyberpunk, mas nem por isso as pessoas reclamam que a obra está sendo encaixotada por causa disso. Isso é porque quando a gente dá um nome, estamos dando um poder para aquilo, pode ser uma maldição as vezes, é verdade, mas não dar nome nenhum também pode ser uma forma de  "desleixo" e o nome não precisa ser Matapunk, porém como o trabalho que estou desenvolvendo com esse quadrinho é sobre essa estética, um nome precisou ser criado já que ele não existia até então.



Quando falo de resquício de civilização consumida pela vegetação, me refiro mais à construções e maquinários antigos típicos do Brasil mesmo e a Mata Atlântica pela diversidade dessa vegetação. 



Por que punk?

      Porque a beleza não está apenas na propaganda "sintética" e comercial das coisas, mas também na realidade e acima de tudo na ideologia e subversividade que demonstra a liberdade criativa e antissistema. Quando algo é feito apenas para vender, ela é o que chamamos de "comercial", mas para mim a verdadeira beleza está na autenticidade de algo sem precisar vender esse algo, está lá, é algo inerente como a beleza da Mata Atlântica. A beleza do Sul de Minas que possui esses dois biomas está lá sem precisar ser vendida. É aí que está a diferença de enaltecer e vender uma ideia. Não estou vendendo a ideia do Matapunk, estou enaltecendo, pois ela já está lá.

O Punk é a palavra que mais enaltece a qualidade e autenticidade e subversão de uma obra, por isso ela é usada nos outros gêneros como Solarpunk, Dieselpunk, Steampunk, Nanopunk, Biopunk entre tantos outros, porque esse nome trás uma liberdade criativa enorme. Os mitos da mitologia grega por exemplo, são tão ricos que você encontrava dezenas de versões para cada mito sem sair da Grécia. Logo o preciosismo com certos mitos do nosso folclore as vezes limita a liberdade criativa e o punk é uma forma de nos soltarmos na hora de escrever ficção.


Todas as minhas obras em quadrinhos autorais tentam enaltecer os lugares que trazem essa estética. 





Casarão abandonado no alto da Serra da Mantiqueira na região conhecida como Posses.

Antiga usina de energia abandonada na Serra da Mantiqueira próxima a nascente do Rio Verde.


Foto de quando nevou na Serra da Mantiqueira na década de 80.



Por que Sul de Minas?

     Eu cresci aqui e sempre senti falta das representações de minha região nas novelas, filmes, quadrinhos e outras mídias, além disso, aqui existe uma riqueza que quando falo com as pessoas de fora elas não acreditam ou nunca ouviram falar e isso me faz sentir como se eu tivesse visto uma estrela cadente ao lado de uma pessoa e essa pessoa não viu. Quando as pessoas falam de Brasil elas possuem uma série de limitações colonialistas desde coisas como achar que no Brasil não existe boas histórias até coisas mais bobas como achar que não neva ou que no Brasil não tem montanhas. Conceitos criados e difundidos, mas que por mais bobas que pareçam, é fato que interferem na autoestima dos brasileiros mesmo que a gente não perceba ou não precise dessas coisas,  só que a arte é fundamental para nos mostrar o quão rico somos.

      O conceito de que Montanha é só onde suas placas tectônicas se juntam é uma falácia pois as montanhas brasileiras foram criadas muito antes, são mais antigas e por isso algumas pessoas não encaixam nessa categoria, porém eu acho isso uma besteira muito maior e mais prejudicial à nossa identidade do que mostrar que sim, nós temos montanhas, nós temos (ou tínhamos) o frio e a neve porque essas coisas não só fazem parte da nossa história como também são elementos que podem ser colocados em nossas histórias sem medo de sermos menos brasileiros por causa disso. 

Além disso, o Sul de Minas é muito perto do grande eixo São Paulo e Rio de Janeiro então claro que Matapunk não é algo apenas do Sul de Minas, é algo que apresenta as estéticas místicas mencionadas à cima que misturam o misticismo e o folclore em meio à resquícios de civilização sendo consumido pela vegetação da Mata Atlântica,  mas o Sul de Minas é totalmente Matapunk.




Estrada de Itamonte-MG que vai para o Parque Nacional de Itatiaia que abrange Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Agulhas Negras - Parque Nacional de Itatiaia.


   Quando falamos em criar um cenário de quadrinhos nacionais, geralmente as pessoas querem evitar ao máximo certos conceitos e isso pode tornar a obra bastante caricata, e é por isso que escrevo esse artigo, para mostrar que o Brasil é muito mais do que a sua caricatura nos mostra, o Brasil é muito mais rico e merece ter essa riqueza enaltecida em suas histórias e mídias de ficção.




Matapunk na música

Uma de minhas maiores inspirações para desenvolver os estudos do livro Cronologia em Arte foi a banda Secos e Molhados. Toda estética e sonoridade deste grupo de 1972 expressam exatamente como vejo a mística da Mata Atlântica em que cresci e a forma como o folclore é trabalhado, não como algo externo, não como algo longe, mas como algo perto, como algo entre nós.

Alguns dos grupos musicais que eu diria que se encaixam com a estética Matapunk são:


Secos e Molhados                                                                       

















Quintal de Clorofila
























Casa das Maquinas























Os mutantes






















Bacamarte





















Terreno Baldio






















Assim Assado

























Sara Não Tem Nome




YMA



Hermeto Pascoal 


Arnaldo Baptista



















Entre tantos outros.



   Escrevo este ensaio com todo respeito e humildade, sem a pretensão de ditar qualquer regra, apenas para descrever como chamarei minha obra e por que o farei desta forma. E convido humildemente todos vocês à discutir e se juntar à esse movimento pois a maior intenção neste projeto é enaltecer a nossa cultura e mostrar um pouco do quão rico é nosso país.

  Muito obrigado quem leu até aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas